Rastros, 2012
exposição @ MAC-RS
fotografia digital
Texto do Curador,
Carlos Eduardo Dias Comas
Não faz muito, o senso comum ainda tinha a fotografia como documento objetivo que eximia a pintura do compromisso de representação da realidade. A câmara não mentia. O fotógrafo não respondia pela imagem capturada. O papel liberava a tela para a aventura abstrata e surrealista. A situação é outra hoje. A manipulação digital terminou com a idéia do documento verdadeiro e do operador autômato, fazendo ao mesmo tempo recordar que a fotografia também foi um dia abstrata ou surrealista. E não parou por aí. Viabilizou a impressão da imagem digitalizada em tela de grande formato, assemelhando agora em termos de suporte a arte de base mecânica e a arte de fatura manual.
É nessa perspectiva que os Rastros de Tonico Álvares ganham sentido. Sozinhos ou compondo trípticos, os quadros alongados afirmam de um jeito manso um recorte pessoal da paisagem metropolitana contemporânea. O detalhe desmesurado e condensado na superfície parece levantado desde o olho do furacão, mas sua imobilidade se adivinha transitória. Reconhecemos vagamente reflexões, refrações, distorções, halos e grelhas, fragmentos ocupando o interstício entre a figuração convencional e a mancha ou o grafismo. E estranhamos que não venham lustrosos, líquidos, brilhantes, como a água, o vidro e o metal na sua base. Porque seus tons se fazem surdos e a consistência rala, de têmpera e não de óleo, desmentindo a gratificação sensual sugerida por suas matrizes. E intrigando, instigando, provocando, acicatando, até nos darmos conta que estão a serviço da representação de complexidades e contradições mais além do belo e do sublime. Para deleite da mente que indaga, e não apenas do corpo que registra e acolhe.
exposição @ MAC-RS
fotografia digital
Texto do Curador,
Carlos Eduardo Dias Comas
Não faz muito, o senso comum ainda tinha a fotografia como documento objetivo que eximia a pintura do compromisso de representação da realidade. A câmara não mentia. O fotógrafo não respondia pela imagem capturada. O papel liberava a tela para a aventura abstrata e surrealista. A situação é outra hoje. A manipulação digital terminou com a idéia do documento verdadeiro e do operador autômato, fazendo ao mesmo tempo recordar que a fotografia também foi um dia abstrata ou surrealista. E não parou por aí. Viabilizou a impressão da imagem digitalizada em tela de grande formato, assemelhando agora em termos de suporte a arte de base mecânica e a arte de fatura manual.
É nessa perspectiva que os Rastros de Tonico Álvares ganham sentido. Sozinhos ou compondo trípticos, os quadros alongados afirmam de um jeito manso um recorte pessoal da paisagem metropolitana contemporânea. O detalhe desmesurado e condensado na superfície parece levantado desde o olho do furacão, mas sua imobilidade se adivinha transitória. Reconhecemos vagamente reflexões, refrações, distorções, halos e grelhas, fragmentos ocupando o interstício entre a figuração convencional e a mancha ou o grafismo. E estranhamos que não venham lustrosos, líquidos, brilhantes, como a água, o vidro e o metal na sua base. Porque seus tons se fazem surdos e a consistência rala, de têmpera e não de óleo, desmentindo a gratificação sensual sugerida por suas matrizes. E intrigando, instigando, provocando, acicatando, até nos darmos conta que estão a serviço da representação de complexidades e contradições mais além do belo e do sublime. Para deleite da mente que indaga, e não apenas do corpo que registra e acolhe.